Isso é uma vergonha...
Scotland Yard matou brasileiro
Fernando Duarte
Correspondente LONDRES
O homem morto na sexta-feira no metrô de Londres durante operação ligada à investigação das explosões da última quinta-feira era brasileiro e não tinha qualquer relação com os ataques. A Scotland Yard admitiu ontem o erro. A polícia londrina afirmou que Jean Charles de Menezes, de 27 anos, estava na estação de Stockwell, no Sul da capital, e teria tentado fugir quando foi abordado por agentes à paisana. Em comunicado, a Scotland Yard classificou a morte como ?uma tragédia?.
Menezes era natural de Gonzaga, cidade do interior de Minas Gerais, e vivia há cerca de quatro anos no exterior. Ele estava há dois anos e meio em Londres, onde trabalhava como eletricista. Segundo a polícia, ele foi atingido cinco vezes por tiros na cabeça depois de ter se recusado a obedecer a ordens de parar. ?Um homem morrer nestas circunstâncias é uma tragédia e a Polícia Metropolitana lamenta?, afirmou a polícia num comunicado. Segundo a Scotland Yard, Menezes foi visto saindo de uma casa que estava sendo investigada em conexão com as explosões da última quinta-feira na capital britânica.
O brasileiro, descrito por algumas testemunhas logo após o incidente como sendo de origem asiática, foi visto quando saltava uma roleta para entrar num vagão de trem parado na estação. Ao passar pela roleta, Menezes teria sido perseguido por policiais à paisana.
Uma das testemunhas disse à emissora BBC que, ao ver que estava sendo perseguido, o brasileiro correu e acabou tropeçando. Os agentes, então, dispararam cinco vezes, acertando todas as balas na cabeça. Os tiros que o mataram foram disparados à queima-roupa. Os passageiros foram retirados imediatamente de todos os vagões, enquanto a polícia ordenava o fechamento das linhas Norte e Victoria.
O brasileiro Fausto Soares, amigo de Menezes em Londres, disse que acha que ele correu dos policiais à paisana porque tinha sido agredido por uma gangue de ingleses há duas semanas.
? Ele era um cara tranqüilo e não se metia em confusão. Foi agredido por ingleses e por isso deve ter ficado com medo e correu.
Menezes foi morto quando estava a caminho do trabalho.
*Vítima viveria legalmente no país
Funcionários do Itamaraty conseguiram localizar um dos quatro primos que dividiam um apartamento com o brasileiro. Alex Alves Pereira reconheceu o corpo. Ele também confirmou que Menezes não tinha motivos para fugir da polícia:
? Eles estava com faixas na cabeça, provavelmente por causa dos tiros que devem ter sido na nuca. Eles atiraram por trás. O Jean nunca correu de ninguém. Não corria de nada, não tinha nenhum passado que fizesse ele correr. O problema é que tinha alguém o seguindo. Não há nada mais que se possa fazer por ele. Pedi para liberarem o corpo o mais rapidamente possível. É o que a família, os amigos, todo mundo quer.
Maria Alves, prima de Menezes, contou que ele morava no exterior há pouco mais de quatro anos:
? Ele falava muito bem inglês e tinha situação legal, tinha permissão para estudar e trabalhar lá.
De acordo com a BBC, quando ficou sabendo que Londres tinha sido atingida por uma nova série de ataques, a reação de Menezes foi dizer que ia comprar uma moto para evitar o ônibus e o metrô.
? Estávamos juntos na quinta-feira, e quando vimos que tinha ocorrido um novo ataque o Jean disse que iria comprar uma moto para evitar o transporte público. Ficamos o dia todo juntos e fomos fazer o orçamento de uma obra. Combinamos de nos encontrar no dia seguinte ? contou o empreiteiro de obras Gésio César D?avila.
Ainda na sexta de manhã, Menezes ligou para Gésio para dizer que ia se atrasar.
? Ele disse que ia chegar atrasado que por causa do ônibus.
Gésio ainda falou com seu colega por uma segunda vez:
? Ele ligou de novo para dizer que ia chegar bem atrasado por causa do metrô. Depois disso, liguei várias vezes mas ele não atendeu.
Por volta da 1h de sábado, o celular de Gésio tocou novamente, mas era a polícia.
?Eles queriam conversar comigo porque viram as ligações dele para o meu telefone.
A morte de Menezes pode ter sido fruto do início de uma nova forma de agir da polícia londrina, chamada de Operação Kratos. A ordem é atirar para matar no caso de confrontos com suspeitos de serem terroristas.
Grupos de direitos civis protestaram contra o incidente. Para Azzam Tamimi, da Associação Muçulmana Britânica, a polícia precisa rever seus procedimentos:
? Francamente, não importa se ele era muçulmano ou não. Era um ser humano.
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